01/04/2011

O MACARRÃO

Ele tem várias apresentações para todos os gostos e bolsos, em várias culturas ao redor do planeta. Vai bem com tantos acompanhamentos, que a cada dia alguém descobre um novo. Serve tanto àqueles que gostam de fazê-lo artesanalmente, desde a massa, até aos que têm menos tempo e simplesmente colocam água quente em um copinho de plástico, devorando-o após três minutos. É tão disseminado mundo afora que suas origens às vezes se confundem. O prato, quase universal, ganhou até um dia em sua homenagem: 25 de outubro é o dia internacional do macarrão. 

“Macarrão” vem do termo grego “makària”, que há mais de 2,5 mil anos designa um caldo de carne incrementado com bolinhas de farinha de trigo e outros cereais. “Macco” vem do latim, nome presente nos tempos em que Cristo ainda estava fisicamente na Terra, usado para um caldo de favas com massa de trigo. “Pasta”, palavra mais usada por italianos e povos de outros países, é do grego “pastillos”, já usado pelo poeta Horácio em muitos de seus textos sobre culinária e gastronomia. Juntando tudo isso, há uns mil anos surgiu na italiana Sicília o verbo “maccari”: amassar com força, achatar. Daí veio “macaronis”.

Quando o homem começou a viver da agricultura, descobriu que alguns cereais podiam ser moídos e, misturados à água, podiam ser assados ou cozidos. O macarrão já estava presente nessa era, não em fios ou com as formas de hoje, mas em pelotas cozidas em água enriquecida com caldos nutritivos. Várias culturas foram promovendo adaptações de acordo com seus costumes. Há textos babilônicos que falam do alimento desde dois séculos e meio antes de Cristo. Antes disso, no século 5 a.C., o macarrão é citado nos textos das leis judaicas, o Talmude. Indo mais para trás na linha do tempo, os romanos do século 7 a.C. já comiam sua massa em pratos salgados ou até doces.
Eis que entra o famoso viajante italiano Marco Polo (figura ao lado), que chega em Veneza em 1295, voltando da China, onde passara 17 anos estudando os costumes locais. No meio da bagagem, uma receita de uma massa feita de uma farinha extraída do arbusto sagu, que após cozida era cortada e posta para secar. Mas Polo não é o introdutor oficial do macarrão na cultura italiana, como muitos pensam. Dezesseis anos antes, um soldado genovês deixa lavrado em testamento um estoque de massas para sua família, designando-as como “macaronis”, usando o citado termo siciliano.
Os historiadores não têm um consenso seguro, mas muitos se referem aos árabes como os criadores do macarrão, que o levaram à Sicília no século 9. Era, então, uma massa seca para melhor conservação em viagens que, reidratada, amolecia novamente. Não tardou e a Sicília tornou-se um grande centro produtor e exportador de macarrão.
Mas a forte associação do macarrão com a Itália se deve ao fato de seu povo ser o maior difusor do produto mundo afora. A partir do século 13, os italianos começaram a difundir o prato em suas viagens por terra ou mar. Os moradores da Velha Bota não receberam o produto dos árabes e deixaram por isso mesmo: desenvolveram mais de 500 tipos, com os mais diferentes formatos e variedades. Aperfeiçoando-o, descobriram que o uso da farinha de trigo “grano duro” era um dos mais corretos, garantindo melhor cozimento e o ponto certo “al dente” (nem mole demais, nem tão duro, facilitando a mastigação e a absorção do molho).
Entra o tomate
A facilidade do plantio e a versatilidade fizeram do tomate a estrela que é até hoje na culinária internacional. Na Itália não era diferente, e logo descobriram que a fruta vermelha dava um ótimo molho. Em sua forma líquida, servia aos mais variados usos. O primeiro molho de tomate registrado em escritos data de 1839, numa receita elaborada pelo Duque de Buonvicino, Ippolito Cavalcanti. O tomate logo começou a ser usado em sopas e purês, além de carnes, peixes e aves. Com a massa, fez um par praticamente indissolúvel até os dias atuais.
Instantâneo
Quem pensa que aquele famoso macarrãozinho japonês barato vendido em qualquer mercearia em todo o mundo é uma invenção mais atual, engana-se. Na China do século 16 era facilmente encontrado o e-fu, facilmente transportado e reidratado em pouco tempo. Mas o instantâneo de três minutos tal e que o conhecemos hoje foi inventado pelo japonês Momofuku Ando, falecido recentemente aos 96 anos. Com o intuito de inventar um alimento barato e fácil de fazer, esmerou-se em pesquisas que o levaram a um dos alimentos mais consumidos no planeta. A novidade tinha, na década de 50 do século passado, um preço cerca de um terço menor que o de uma tigela de ramen (ou lámen, sopa com macarrão e outros ingredientes que vem a ser o prato mais popular dos japoneses) das mais baratas em restaurantes. Veio a ser conhecido no Brasil somente em meados dos anos 60.
Do formato tradicional de um pequeno emaranhado quadrado de macarrão embalado em saquinho, a invenção de Ando ganhou um novo formato lançado em 1971: vinha dentro de um copinho plástico ou de isopor. Adicionando-se água quente, que poderia até mesmo ser carregada em garrafas térmicas, em viagens, em três minutos o macarrão estava pronto para ser consumido direto na embalagem. Hoje, é um dos produtos alimentícios mais consumidos no mundo todo – e a salvação da pátria para estudantes e preguiçosos, ou mesmo para quem não está com muita paciência para enfrentar a cozinha em alguns dias.
O esforço de Ando não foi meramente mercadológico, embora ele merecidamente tenha ficado rico com seus produtos. Procurou inventar algo simples e barato após ver seu país amargar a fome após a Segunda Guerra Mundial. Segundo conta em sua biografia, o desafio autoimposto surgiu quando presenciou uma enorme e tumultuada fila de pessoas famintas em uma loja improvisada de sopa de macarrão. “A paz está garantida quando não se está com fome”, dizia sempre. O inventor foi premiado pelo governo de seu país com as mais honrosas condecorações.
Alimento versátil
O macarrão associa o prazer de comer a uma garantia de refeição nutritiva. Prático de fazer, aceita tantas versões que a cada dia alguém descobre uma nova. Está presente nas mesas de todos os estados brasileiros e em quase todos os países do mundo, tanto nos lares mais ricos quanto nos mais humildes. Hoje já é bastante comum achar barracas e carrinhos em que o transeunte das grandes cidades pode saborear seu macarrão feito na hora, além do famoso serviço de entrega em caixinhas de papel, pedidas por telefone, elaborado pelos orientais.
Crianças e adultos dificilmente recusam um macarrão em casa, em restaurantes, na rua ou mesmo no trabalho. Ganhou centenas de variedades e formatos para vários usos ao redor da Terra, inclusive com recheios, como o ravioli.
(Fonte : site Arca Universal : Compromissos com a verdade - Artigo de Marcelo Cypriano

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